Portanto seres pensantes questionam e muito! Como os nossos irmãos de Beréia. Seria isso apavorante? Não, nem um pouco. Penso...logo existo! Para Descartes pensar é sinal de existência, no evangelho de hoje, quem pensa não consegue subsistir. "Penso, logo existo" (Descartes) "Não pense, faça o que eu digo" (Alto Clero Evangélico)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Política evangélica: Ativismo político ou complexo de vira-lata?




Por Daniel Grubba

Quando analisamos os debates políticos das eleições passadas, logo descobrimos que o cenário era largamente dominado por temas de fundo econômico e social. As questões religiosas não eram tão fundamentais, apesar de sempre estarem presentes. Mas nesta corrida presidencial, Deus entrou na eleição. Qual será o resultado disso tudo?

A verdade é que desde Constantino (sec. IV) a Igreja no ocidente acostumou-se aos benefícios do palácio real e aos debates da vida pública. Nas épocas de declínio político, como na queda do império Romano no século V, foi a igreja que assumiu a responsabilidade de colocar ordem no caos. Após esse período desértico, com o crescimento do poder papal, a igreja unificou a sociedade ao gerir juntamente os interesses religiosos e seculares. Contudo, a partir do século XVII, a modernidade expulsou a religião da vida pública e confinou sua relevância apenas as questões de foro íntimo. A igreja então se viu obrigada a separar-se do resto da sociedade organizada e até hoje há quem deseje colocá-la novamente no cenário armado por Constantino.

Toda essa questão histórica, somada ao nosso contexto atual, nos leva novamente a questionar sobre a tensa relação entre a fé e a política. Por isso, gostaria de refletir juntamente com os caros leitores sobre alguns pontos importantes para uma discussão relevante.

O primeiro ponto, é que devemos nos esforçar para compreender as variadas noções de política. Em um sentido mais amplo e geral, a política diz respeito ao “bem comum”, da coletividade. Portanto, a fé cristã, neste sentido, tem tudo haver com a política e nos impele a buscar com responsabilidade o bem da sociedade da qual fazemos parte. A alienação política dos cristãos frente aos graves problemas sociais é a forma mais cruel de “espiritualizarmos” o pecado da omissão. Há poucos dias atrás Marina Silva foi questionada sobre o engajamento político na perspectiva da religião e respondeu “Martin Luther King e Nelson Mandela mostram que é possível fazer política universal com base em valores religiosos”. Poderíamos acrescentar mais nomes as indicações de Marina, como por exemplo, o abolicionista William Wilberforce, que em nome da fé cristã, lutou politicamente durante duas décadas pela libertação dos escravos na Inglaterra e por uma sociedade mais justa e humana. Mahtma Gandhi, líder pacifista indiano, afirmou “minha devoção à verdade empurrou-me para a política; e posso dizer, sem a mínima hesitação, e também com toda a humildade que, não entendem nada de religião aqueles que afirmam que ela nada tem a ver com a política”. Uma outra noção de política, e esta mais polêmica para a maioria dos cristãos (talvez por preconceito), diz respeito a disputa pelo poder do Estado por intermédio de partidos políticos. Para o bem ou para o mal, é nesta segunda noção que a igreja tem militado ativamente.

O segundo ponto que gostaria de mencionar diz respeito aos reais interesses da igreja ao se envolver nos atuais debates políticos. Está claro que a igreja demonstrou sua insatisfação em ser deixada de fora da visibilidade social. Há o desejo de muitos líderes em ter de novo a via pública e para isso colocaram suas manguinhas de fora nessas eleições. Mas fico a pensar com meus botões: Será que a igreja evangélica no Brasil está realmente preocupada em promover uma reforma na cultura de nosso tempo ou apenas quer se livrar de seu “complexo de vira lata” via ativismo político? (Por ativismo político refiro-me ao crescente envolvimento dos crentes nas disputas por cargos públicos) E pior, será que estamos em busca de poder político para voltarmos a sermos relevantes na sociedade ou apenas para favorecer nossos interesses internos?A matéria do Leonardo Gonçalves, editor do Púlpito Cristão, coloca pimenta nestas questões.

No que diz respeito à relação entre fé e política, a história recente dos Estados Unidos nos revela que o ativismo político gerou um impacto na cultura muito menor do que se esperava. Como disse o pastor americano Mark Driscoll, essa estratégia fez apenas com que Jesus se tornasse para a sociedade uma espécie de "Cristo-Rambo", um cara durão que adora jogar umas bombas morais nos defensores do aborto e na comunidade homossexual.

Precisamos entender que a política tende a espelhar a cultura e não o contrário. Por isso o enfoque não deve ser primordialmente engajamento político via partidarismo em busca pelo poder do Estado (ainda que muitos sejam chamados a desenvolver sua vocação nestas esferas), mas na redenção da cultura. Fomos chamados para resgatar culturas inteiras e não só indivíduos. E para isso não podemos depositar toda nossa confiança nas instituições e em alguns representantes legais, como se fossem verdadeiros messias, mas somente em Deus. Devemos compreender que há um rio cultural que corre por debaixo das forças políticas e é ali que jaz o verdadeiro problema. O trabalho mais eficaz para cumprirmos esse chamado de transformar culturas e pessoas para a gloria de Deus será feito por cristãos comuns em suas mais variadas esferas de influência.
"Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito"

(Conselho de Paulo à Timóteo em 1Tm 2:1-2)

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