Portanto seres pensantes questionam e muito! Como os nossos irmãos de Beréia. Seria isso apavorante? Não, nem um pouco. Penso...logo existo! Para Descartes pensar é sinal de existência, no evangelho de hoje, quem pensa não consegue subsistir. "Penso, logo existo" (Descartes) "Não pense, faça o que eu digo" (Alto Clero Evangélico)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Afinal, quem é tua cobertura?


Afinal, quem é tua cobertura?

Esta é a pergunta concisa feita por muitos cristãos modernos em toda parte aos que se reúnem fora da igreja institucional. Mas, o que há no âmago desta pergunta? Qual sua base bíblica?
Sustento que o ensino moderno conhecido como “cobertura protetora” tem gerado uma enorme
confusão e uma conduta cristã anômala.
Este ensino afirma que os cristãos estão protegidos do erro doutrinal e do fracasso moral quando se submetem à autoridade de outro crente ou organização. A dolorosa experiência de muitos me levou a concluir que o ensino da “cobertura” é um assunto que perturba grandemente a Sião em nossos dias e exige uma reflexão crítica.
Refiro-me a temas tão espinhosos como o da liderança da igreja, a autoridade espiritual, o discipulado e a responsabilidade de prestar contas. Ademais, busco bosquejar um modelo integral que nos permita entender como opera a autoridade na ekklesia (igreja).

A “Cobertura” está Coberta pela Bíblia?

É surpreendente que a palavra “cobertura” apareça apenas uma vez em todo o NT.
É usada referindo-se à cabeça coberta da mulher (1 Cor. 11:15). Ao passo que o Antigo Testamento (AT) utiliza pouco este termo, sempre o emprega referindo-se a uma peça do vestuário natural. Nunca é utilizado de maneira espiritual ligando-o a autoridade e submissão.
Portanto, a primeira coisa que podemos dizer acerca da “cobertura” é que há escassa evidencia.
Bíblica para construir-se uma doutrina. Não obstante, incontáveis cristãos repetem como papagaios à pergunta “quem-é-tua-cobertura?” e insistem nela como se fosse a prova do ácido que mede a autenticidade de uma igreja ou ministério.
Se a Bíblia silencia com respeito à idéia da “cobertura” o que é que se pretende dizer com a
pergunta, “Quem é tua cobertura”? A maioria (se insistíssemos) formularia esta mesma pergunta em outras palavras: “A quem você presta contas?”.
Mas isso suscita outro ponto difícil. A Bíblia nunca remete a prestação de contas a seres humanos, mas exclusivamente a Deus! (Mat. 12:36; 18:23; Luc. 16:2; Rom. 3:19; 14:12; 1 Cor. 4:5; Heb. 4:13;13:17; 1 Ped. 4:5).
Por conseguinte, a sadia resposta Bíblica à pergunta “a quem prestas contas?” É bem simples:
“presto contas à mesma pessoa que você, a Deus”. Assim, pois, é estranho que tal resposta provoque tantos mal entendidos e falsas acusações.
Deste modo, embora o tom e o timbre do “prestar contas” difira apenas da “cobertura”, a cantilena é essencialmente a mesma, e sem dúvida não harmoniza com o inconfundível canto da Escritura.

Trazendo à Luz a Verdadeira Pergunta que se Esconde Atrás da Cobertura

Ampliemos um pouco mais a pergunta. Que é que se pretende realmente dizer na pergunta acerca da “cobertura”? Permito-me destacar que a verdadeira pergunta é, “Quem te controla?”.
O (maléfico) ensino comum acerca da “cobertura” realmente se reduz a questões acerca de quem controla quem. De fato, a moderna igreja institucional está construída sobre este controle.
Conseqüentemente, a gente raras vezes reconhece que é isto que está na base da questão, pois se
supõe que este ensino esteja bem ancorado nas Escrituras. São muitos os cristãos que crêem que a “cobertura” é apenas um mecanismo protetor.
Assim, pois, se examinarmos o ensino da “cobertura”, descobriremos que está baseado em um
estilo de liderança do tipo cadeia de comando hierárquico. Neste estilo de liderança, os que estão em posições eclesiásticas mais altas exercem um domínio tenaz sobre os que estão debaixo deles. É absurdo que por meio deste controle de direção hierárquica de cima para baixo se afirme que os crentes estejam protegidos do erro.
O conceito é mais ou menos o seguinte: todos devem responder a alguém que está em uma
posição eclesiástica mais elevada. Na grande variedade das igrejas evangélicas de pós guerra, isto se traduz em: os “leigos” devem prestar contas ao pastor. Que por sua vez deve prestar contas a uma pessoa que tem mais autoridade.
O pastor, tipicamente, presta contas à sede denominacional, a outra igreja (muitas vezes chamada de “igreja mãe”), ou a um obreiro cristão influente a quem considera ter um posto mais elevado na pirâmide eclesiástica.
De modo que o “leigo” está “coberto” pelo pastor, e este, por sua vez, está “coberto” pela
denominação, a igreja mãe, ou o obreiro cristão. Na medida que cada um presta contas a uma autoridade eclesiástica mais elevada, cada um está protegido (“coberto”) por essa autoridade. Esta é a idéia.
Este padrão de “cobertura-responsabilidade em prestar contas” se estende a todas as relações
espirituais da igreja. E cada relação é modelada artificialmente para que encaixe neste padrão.
É vedada qualquer relação fora disto – especialmente dos “leigos” com respeito aos “líderes”.
Mas esta maneira de pensar gera as seguintes perguntas: Quem cobre a igreja mãe? Quem cobre a sede denominacional? Quem cobre o obreiro cristão?
Alguns oferecem a fácil resposta de que Deus é quem cobre estas autoridades “mais elevadas”.
Mas esta resposta enlatada demanda outra questão: O que impede que Deus seja diretamente a
“cobertura” dos “leigos”, ou mesmo do pastor?
Sem dúvida, o problema real com o modelo “Deus-denominação-clero-leigos” vai bem além da
lógica incoerente e danosa a que esta conduz. O problema maior é que este modelo viola o espírito do Novo Testamento, porque por trás da retórica piedosa de “prover da responsabilidade de prestar contas” e de “ter uma cobertura”, surge ameaçador um sistema de governo que carece de sustento bíblico e que é impulsionado por um espírito de controle.

MODELOS DE LIDERANÇA

A estrutura de liderança hierárquica que caracteriza a igreja Ocidental, deriva de uma mentalidade posicional. Esta maneira de pensar outorga autoridade em termos de espaços a alcançar, descrições objetivas de trabalho a realizar, títulos para exibir, e postos que fazem valer seus privilégios.
A maneira de pensar posicional revela um grande interesse por estruturas explícitas de liderança.
Termos tais como “pastor”, “ancião”, “profeta”, “bispo”, apóstolos, etc, são títulos que representam ofícios eclesiásticos.
Ou seja, um ofício é um espaço definido pelo grupo. Tem uma realidade alheia à pessoa que o
ocupa. Também possui uma realidade alheia às ações que a pessoa realiza nesse oficio.
Por contraste, a noção de liderança do NT está arraigada em uma mentalidade funcional.
Descreve a autoridade em termos de como as coisas operam organicamente. Ou seja, funcionam por meio da vida em Deus.
A liderança descrita no NT atribui um alto valor aos dons especiais, a maturidade espiritual e o
serviço sacrificado de cada membro. Enfatiza as funções em vez dos ofícios, as tarefas em vez dos títulos.
Na ênfase funcional, a igreja opera por meio da vida, Escutam juntos ao Senhor e se afirmam mutuamente em dons que recebem do Espírito.

Jesus e a Idéia de Liderança Gentílica/Política

O ministério de Jesus com respeito à questão da autoridade clarifica os temas fundamentais que
estão por trás da moderna doutrina da “cobertura”. Consideremos como o Senhor contrastava o modelo hierárquico de liderança do mundo gentílico com a liderança no reino de Deus.
Depois que Jacobo e João
lhe pediram que lhes concedesse altas posições de poder e glória ao seu lado no Seu trono, Jesus os contestou dizendo:
Vocês sabem que os governantes das nações AS DOMINAM, e as pessoas importantes EXERCEM PODER sobre elas. NÃO SERÁ ASSIM ENTRE VOCÊS; ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo, como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos. (Mat. 20:25-28)
E mais uma vez, ...Os reis das nações DOMINAM sobre elas, e os que EXERCEM AUTORIDADE sobre elas são chamados de benfeitores; MAS VOCÊS NÃO SERÃO ASSIM. Ao contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior, o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como o que serve. (Luc. 22:25-27).
A palavra grega traduzida por “exercem sua autoridade” em Mateus é katexousiazo que é uma
combinação de duas palavras gregas: katá, que significa sobre, e exousiazo, que significa exercer autoridade. O Senhor também utiliza nesta passagem a palavra grega katakurieuo que significa “controlar” ou “dominar” aos demais. O que Jesus condena nestas passagens não é apenas os líderes opressores como tais, mas a forma hierárquica de liderança que domina o mundo gentílico.
Isto merece ser repetido: Jesus condenou não apenas os líderes tirânicos, condenou também a
própria forma de liderança hierárquica!
Qual é a forma hierárquica de liderança? É o estilo de liderança fundado na idéia pobre de que o
poder e a autoridade fluem de cima para baixo. Essencialmente, está construída em uma estrutura social de cadeia de comando.
A liderança hierárquica está baseada em um conceito mundano de poder. Isto explica porque esta fórmula é comumente usada em todas as burocracias tradicionais. Está presente nas formas corruptas do feudalismo senhor/vassalo e amo/escravo. Também pode ser vista nas esferas altamente estilizadas e reguladas das sociedades militares e empresariais do primeiro mundo.
O estilo de liderança hierárquico, mesmo que não seja cruel, é prejudicial para o povo de Deus,
porque reduz as relações humanas a associações estilo comando. Com isto quero dizer que as relações se ordenam na forma de uma estrutura militar do tipo cadeia de comando. Estas relações são alheiras à prática e ao pensamento do NT.
A liderança hierárquica está estabelecida em todas as esferas da cultura pagã.
Lamentavelmente foi adotada pela maioria das igrejas cristãs de nossos dias.
Resumindo o ensino de nosso Senhor acerca deste estilo de liderança, tornam-se evidentes estes
marcantes contrastes.
No mundo gentílico, os líderes operam sobre a base de uma estrutura social política, tipo cadeia de comando – uma hierarquia. No reino de Deus, a liderança flui da mansidão e do serviço sacrificado.
No mundo gentílico, a autoridade está baseada na posição e no ranking. No reino de Deus, a
autoridade está cimentada no caráter piedoso. Note a descrição que Cristo faz dos líderes: “será
vosso escravo” e “seja... como o menor”. Aos olhos do Senhor, ser precede ao fazer, e o fazer
surge do ser. Em outras palavras, a função segue o caráter. Os que servem, fazem assim porque
são servos.
No mundo gentílico, a grandeza se mede pela proeminência, pelo poder externo e pela influência política. No reino de Deus, a grandeza se mede pela humildade interna e pelo serviço externo.
No mundo gentílico os líderes se aproveitam de suas posições quando governam os demais. No reino de Deus os líderes rechaçam toda classe de reverência especial e vêem a si mesmos como “o menor”.
Em suma, as estruturas hierárquicas de liderança caracterizam o espírito dos gentios. Portanto, a
implantação destas estruturas entra em choque com o cristianismo do NT. Nosso Senhor não exitou quando declarou Seu implícito desprezo pela noção gentílica de liderança, porque claramente disse: “não será assim entre vocês”.
Considerando tudo isso, no ensino de Cristo não há lugar para o modelo de liderança hierárquica que caracteriza a moderna igreja.

Jesus e o Modelo de Liderança Judaico/Religioso

Jesus também contrastou a liderança no reino com o modelo de liderança que caracteriza o mundo religioso. No texto adiante, o Senhor expressa vividamente a perspectiva de Deus com respeito à autoridade, em contraste com o conceito judaico:
Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o Mestre de vocês, E TODOS VOCÊS SÃO IRMÃOS. A NINGUÉM NA TERRA CHAMEM ‘PAI’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. TAMPOUCO VOCÊS DEVEM SER CHAMADOS ‘CHEFES’, porquanto vocês têm um só Chefe. O Cristo. O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mat. 23:8-12).
O ensino de Cristo nesta passagem é o seguinte:
No clima religioso dos judeus existia um sistema de classes formado por religiosos, especialistasdo tipo guru, e os não especialistas. No reino, todos são irmãos da mesma família.
No mundo judaico, aos líderes religiosos são outorgados títulos honoríficos (por exemplo,
Chefes, Pai, Reverendo, Pastor, Sacerdote, Ministro, etc.). No reino não há distinções de
protocolo. Estes títulos obscurecem o incomparável lugar de honra que corresponde a Jesus e
empana a revelação do NT que contempla todos os cristãos como ministros e sacerdotes.
Afinal quem e a sua cobertura?
Pense nisso, estabeleça um reino inabalável!

Resumo do livro quem é tua cobertura?
Autor Frank A. Viola


Nenhum comentário: