Portanto seres pensantes questionam e muito! Como os nossos irmãos de Beréia. Seria isso apavorante? Não, nem um pouco. Penso...logo existo! Para Descartes pensar é sinal de existência, no evangelho de hoje, quem pensa não consegue subsistir. "Penso, logo existo" (Descartes) "Não pense, faça o que eu digo" (Alto Clero Evangélico)

domingo, 23 de setembro de 2012

O PROBLEMA DO MERCADO GOSPEL


O assunto do mercado gospel (expressão criada com o advento da “aceitação condicionada” do cristianismo no meio secular) e como deve a pessoa que se diz cristã lidar com ele, tem implicações, no mínimo, ainda bastante confusas.
Se tomarmos a vivência cristã como a autêntica tentativa (mesmo que às vezes falha) de imitar o Cristo, chegaremos rapidamente a entraves éticos que, não sei por qual motivo, ainda não foram enfrentados pela maioria cristã que diz pensar a vida.
Considerando que a postura verdadeiramente cristã é, repito, imitar o Cristo, indago: até que ponto estar inserido no mercado gospel, por meio de qualquer que seja a manifestação artística, não será considerado uma autêntica venda do evangelho?
Sim, não fechemos os olhos. Em torno de um cd/dvd evangélico lançado existe toda aquela conjuntura mercadológica que conhecemos, entremeada de contratos, promessas, quantias vultuosas acordadas, bem como as respectivas quebras de contratos, dissabores, aborrecimentos e todos aqueles elementos capazes de travestir a religião de mero negócio. Sem olvidar, também, há aqueles que já estipulam determinado valor, nada abaixo daquele valor, para apresentarem o evangelho através do talento que sabem executar muito bem.
Assim, por um lado, numa análise supostamente correta frente à vida de Jesus, uma banda musical ou artista que cobrasse determinado valor, nada menos que aquele valor, para fazer uma apresentação, não estaria coadunado com a mensagem/vida de Jesus, porquanto descaradamente estaria tratando o evangelho como negócio, na finalidade tão combatida de se auferir renda por meio da religião. Não estaria sendo humilde o suficiente para aceitar a proposta de Jesus em não tornar a sua existência, nem sua vivência espiritual, algo dissociado da pessoalidade, porque, sabemos, negócio é negócio, não se trata de pessoas. Estaria vendendo aquilo que auferiu gratuitamente.
De outro lado, numa análise mais detida, não estaríamos sendo corretos ao negligenciar o fato tão corriqueiro de músicos que vivem apenas de sua arte e que, dessa forma, procuram dar o melhor para suas famílias, como nós, os que lemos este texto, também fazemos, mesmo que por outros meios. Eles têm contas a pagar, esposas, filhos, e todo o gasto financeiro que isso implica. Negar ou não concordar com pagamento em dinheiro a pessoas que vivem da música e com você contratam, é, no mínimo, desumano, e, por conseguinte, anti-cristão.
Desta forma, como se posicionar? Há um bom tempo tenciono aplainar minhas conclusões em raciocínios ponderados, que formem a ponte entre os pólos radicalmente postos num debate. Portanto, nesse ponto aqui discutido, apelo para a consciência, fator tão repetido nas palavras de Paulo ao escrever a segunda carta aos coríntios.
A consciência de cada um é que irá valer. Isso de maneira alguma é abrir as portas para qualquer posicionamento afastado de uma justificativa plausível. Entendo apenas que os julgamentos cegamente objetivos, que partem da observação externa, ao menos nesse assunto, podem estar eivadas de vícios. Músico que é músico merece ser respeitado como profissional que é, porém, deve também respeitar os ditames éticos de sua fé. Deve saber identificar bem e se autolimitar (algo difícil de se fazer) frente àquela linha tênue que separa a pura ganância do direito inviolável de ser pago para sustentar a si e sua família.
De mais a mais, combate-se os valores absurdos. Julgo ser essa questão plenamente contornável se o artista souber abdicar de querer mais e sempre mais. Deve contentar-se com o necessário.
Agora a pergunte exsurge: e o que é o “necessário”? Isso não pode variar para cada pessoa, acabando por tornar inócuo esse conselho? Evidente. Mas aí é hora de olharmos para Jesus e julgarmos se ele assim faria caso estivesse no seu lugar.
Por fim, uma triste verdade. Ninguém, absolutamente ninguém, escapa ileso caso algum dia se torne celebridade (conceito talhado pelo meio secular e tomado pelos cristãos, claro, com roupagem nova). As consequências virão. É necessário acuidade ao almejar a fama, porque junto dela virão, inarredavelmente, todos os elementos capazes de fazerem nascer os piores vícios de alma que o ser humano pode conceber.
Há um preço muito alto a ser pago quando se deseja ingressar no chamado mercado gospel. Há um sacrifício de alma absurdo em ser rico, reconhecido e admirado.
“Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto as mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz…”
(Los Hermanos, O Vencedor)
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Fonte: Icono Blog.

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